quinta-feira, 22 de maio de 2014

IR...

Tinha uma enorme vontade! Queria agarrar o momento… Carpe Diem!

Conseguia ouvir, ténue o som. Chegava difuso. Mas era o que mais queria: sair a correr e subir naquele carro, que lhe abria o caminho...

“Quero ir! Se conseguir, será tarde de mais para que me impeçam! Já lá estarei… Só tenho que descer…”
Em baixo, a suave neve convidava ao salto… não iria correr mal! Não podia! Seria perfeito…

Sapatos? Não teria sapatos, para correr sobre a neve…

Casaco? Não teria casaco para afugentar o frio…

Nada! Apenas o vestido!

Mas ali fora, aquele som… aquilo era tudo! O fim… o princípio… o acordar… o regresso…

Aquele era o dia! Não lhe podia ser negado…

Ouviu as vozes do outro lado da porta. Sabia que a chamariam daí a pouco, para cumprir… e se fosse, jamais mudaria o seu destino!

Prendeu as saias na cintura, deixando as pernas descoradas a nu. Sentia o frio ainda mais cortante. Subiu para o parapeito da janela. Olhou para o chão em baixo, separado por dois andares. “Vou conseguir!”
Saltou! Sentiu o vento a deslocar-lhe a saia, como se esta a mantivesse a flutuar, suavemente, até ao chão. O frio abraçou-a! Os pés gelaram ao tocar no chão, mas precisou apenas de alguns segundos para se recompor. E correu… Correu tão depressa que o que ficava para trás, já lá não estava. O som era cada vez mais preciso…