- Já chegaste há muito tempo?
- Que vos parece?!
Não ergueu a cabeça, simulando
uma fúria divertida, com a espera de duas horas. Tinha estado entretida com
duas águas, um café e o portátil, embora a areia a convidasse à preguiça da
tarde soalheira, adiada pelo atraso do casal.
Mas sabia o quanto aquela nova
relação esperara o seu tempo. Compreendia aquela ansiedade traduzida no atraso
dos dois…
- Estás zangada!
- Estou ocupada…
- Não vens para a praia?
- Esperem, que eu também esperei!
- Má!
Olhou para os dois, pronta a
deixar os olhos chisparem uma fúria indizível. O olhar de carneirinhos estudado
dos dois rendeu-a e os lábios rasgaram num sorriso vencido. Largaram os três a
rir.
- Apetece-me bater-vos!
- Para quê?! Gasta as tuas forças
em coisas mais produtivas…
- Assim como vocês?! Estão com um
ar esgazeado…
- Também queres ficar com um ar
esgazeado? Eu dou um jeitinho… A tua irmã não se deve importar…
Deu-lhe um encontrão.
- Estúpido!
- Eu viro a cara! Não vejo!
- És tão parva como ele.
- Somos nada! Só te queremos ver
feliz…
- Deixem-me ir pagar. Torna-te útil
e arruma-me o portátil.
Seguiu para o balcão do bar de
praia. Enquanto aguardava, observava a animação da irmã com o seu melhor amigo.
A atenção de ambos já não era só para ela. Tinham-se um ao outro… Que inveja! Pareciam
encantados um com o outro, num daqueles impulsos imediatamente iniciais, em que o
rosa choca com a realidade, em que o céu não toca a terra, em que nada há além do enamoramento, em que tudo se
perde para a fantasia… Debruçado sobre a mesa, ele segurava a mão do seu
objecto de paixão, de olhos fixos nos dela, cobrindo a mão de beijos lambuzadamente
sensuais. Imaginou a sua própria mão presa na dele, a receber carícias... Fechou momentaneamente os olhos, para ao abri-los encontrar o olhar dele fixo no dela. Virou-se para o balcão, de
novo furiosa com a sua indiscrição.
“Caramba! Não sei se ganhei um
irmão ou se perdi uma irmã!”
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